quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Câncer

Ele tinha profundas rugas que pareciam existir apenas ao redor dos seus olhos. Nos outros lugares sua pele era rígida, mas desprovida de marcas fundas. Possuía ombros altos e largos. Seus olhos estavam envolvidos por marcas roxas de olheiras, seu cabelo cheirando a cigarro e suor. Seu rosto e o resto de seu corpo eram extremamente pálidos, como uma neve nova que acabará de cair do céu. Seus lábios eram finos e seu nariz arrebitado. Ele cheirava a nicotina e colônia nova. Seu nome era Gerard.
Novamente o mesmo copo pequeno era posto em seus lábios e aquela mesma bebida rasgante e seca descia pela sua garganta. Seus dedos foram de encontro à seu, quase vazio, maço de cigarro. Uma vez que o plástico estava fora do alcance, ele bateu na embalagem algumas vezes, fazendo um cigarro deslizar para cima. Sugou o tabaco, mostrando as bochechas rígidas antes de expirar, os olhos fechados e a cabeça pendendo em arrogância. A fumaça já estava densa naquele local, tudo cheirava nicotina e álcool. As mulheres cheiravam à dinheiro fácil e os homens à sexo. Gerard estava cansado disso, mas não parava.
Aquela era a vida que ele tinha à anos, não pensava em parar agora, não depois de tanto tempo preso naquilo. Isso não fazia mais mal à Gerard, pelo menos era o que pensava.
Mesmo com calor, ele não tirava seu paletó. Seu sangue borbulhava torturantemente em suas veias, deixando gotas de suor caírem vagarosamente pela sua face, logo limpas com sua manga negra do paletó e dando origens as outras seguidas. Ele tinha tanto nojo daquele local que preferia passar devido calor, do que sentir sua pele sendo penetrada por aquela fumaça suja.
Mikey, seu irmão mais novo, já havia lhe informado que se continuasse com essa vida de merda ele iria morrer com câncer no pulmão e de cirrose. Mas Gerard rebatia dizendo que já tinha vivido o suficiente e que sua vida não iria mudar agora. Ele remoia seu passado, ele só queria se esquecer de tudo o que não conseguia.
Gerard entrou em sua casa quebrando e chutando tudo o que conseguia. Ele fedia à álcool e cigarro. Linzy, sua mulher, estava grávida. Ela já havia se acostumado com isso, toda noite ela tinha que agüentar esse homem bêbado em sua casa. Mas nessa noite, Linzy, pôs a discutir com Gerad, dizendo que ele tinha que parar com isso, que logo seu filho iria nascer, e ele ainda iria continuar com a bebida. Eles gritavam. Ele apenas subiu para o quarto, voltando em seguida com uma arma na mão e apontou na direção da barriga de Linzy. Antes que ela pudesse gritar, Gerard puxou o gatilho, deixando a bala correr em instantes pelo ar e parando logo do outro lado da sala. O chão possuía um corpo se agoniando em dor e sangue, muito sangue espalhado pelo tapete.
Ele ao invés de parar com o álcool, continuou com este. Ele não conseguia ver outro modo de se esquecer do passado a não ser tentando o suicídio, mas falhou em todas as tentativas, então, a solução foi o álcool. Ele não queria ajuda de médicos, muito menos de sua família, ele tentava se isolar ao que podia.
Mikey dias atrás, levou Gerard à força para um hospital para ver como Gerard estava. Dois dias após isso ele recebeu a notícia que estava com o câncer. Isso iria acontecer logo, pensou Gerard.
Ele sabia que iria morrer e apenas pedia para que o enterrassem com suas cores favoritas e em sua lápide escrevessem: “Todos possuem apenas uma vida, eu fiz da minha um inferno. Não adianta mais eu pedir seu perdão, você nunca vai voltar e eu nunca vou ver seu sorriso novamente. Eu a amo. Nunca deixei isto sair de mim. Por favor, guie-me até você, L.”


Outro final: “Quando tudo parece o fim ou a última coisa que vejo é você não voltando para a casa. Eu deveria pensar que todos os sorrisos vão para sempre me assombrar? E todas as feridas que sempre vão me deixar cicatrizes? Eu tenho que levar isto, para estar vivo. Há apenas uma vida para dar e assim nós nos esforçamos. Essa passagem que havia perdido, meramente existindo para continuar o mesmo. Esperando, alcançando a salvação em branco, a cada segundo, a cada hora, a cada dia. Por favor, guie-me até você, L.” – My Chemical Romance – Bury in Black.

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