quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Diário da Morte:

Veio o verão.
Para a menina que roubava livros, tudo corria bem.
Para mim, o céu era da cor dos judeus.
O cheiro fazia lembrar uma fornalha, mas ainda muito frio.
Estremeço ao recordar - ao tentar desrealizar aquilo.
Bafejo ar quente nas mãos, para aquecê-las.
Mas é difícil mantê-las aquecidas quando as almas ainda tiritam.
Em 23 de junho de 1942, havia um grupo de judeus franceses numa prisão alemã, em solo Polonês. A primeira pessoa que peguei estava perto da porta, com a mente em disparada, depois reduzida a passadas, depois mais lenta, mais lenta...
Por favor, acredite quando lhe digo que, naquele dia, peguei cada alma como se fosse um recém-nascido. Cheguei até a beijar alguns rostos exaustos, envenenados. Ouvi seus últimos gritos entrecortados. Suas palavras evanescentes. Observei suas visões de amor e os libertei de seu medo.
A todos levei embora e, se houve um momento em que precisei de distração, foi esse. Em completa desolação, olhei par ao mundo lá em cima. Vi o céu transformar-se sem sombra de dúvida, que o sol era louro e a atmosfera interminável era um gigantesco olho azul.
Eles eram franceses, eram judeus, e eram você.
Pag. 306
Estou quase que no fim, é tão lindo e perfeito cada simples página, amo ele.

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